Relato
de Parto – Carol, Patrik e Joaquim
Quando
pensava em ter um filho sempre tive na mente que eu queria um parto
normal, porque como o
próprio nome diz é “normal” né? Pra mim “mulher corajosa” sempre foi aquela que
estava disposta a deixar alguém cortar sei lá quantas camadas do seu corpo,
quando o bebê pode sair sem deixar nenhuma cicatriz.
Mas bem, descobrimos que estávamos
grávidos no dia 18/11/2011 e passado todo o êxtase inicial da descoberta fui
procurar um(a) obstetra do meu convênio mesmo. Comecei as consultas pré-natais
com esta médica, mas também comecei a ler alguns artigos e blogs na internet
sobre gravidez e parto e fui descobrindo tod um novo mundo chamado “Maternidade
Ativa”. Cheguei ao site do GAMA (Grupo de Apoio à Maternidade Ativa) e lá
aprendi o que era uma doula e decidi que queria uma pra mim (rs).
Junto com o meu marido em uma
consulta perguntei a essa médica sobre as questões do parto e a resposta dela
foi de que era muito cedo para pensar nisso, mas que de qualquer forma eu não
deveria criar muitas esperanças sobre o parto normal para não me frustrar, já
que diversas condições podem levar a uma cesariana. E aí ela fez uma lista de
todas as complicações e completou dizendo que o estilo de vida da mulher atual
dificultava as coisas também.
Para tudo! Como assim? E o que
dizer dos EUA, onde mais da metade da população está acima do peso e os índices
de parto normal são superiores aos de cesárea.
Mas continuei indo nesta médica,
só que me informando cada dia um pouco mais. Nestas buscas encontrei a doula
Priscila Rezende, que apesar de não poder me acompanhar no parto foi até a nossa
casa e esclareceu várias das nossas dúvidas.
Para o meu marido toda essa
discussão não fazia o menor sentido, porque ele é suíço e por lá cesárea
é indicação médica para casos graves, quando o parto vaginal realmente não é
possível. Por essa razão o apoio dele foi ainda mais forte.
Depois da conversa com a Priscila
comecei a sentir uma angústia e um aperto no coração. Eu vi ali que o que eu
buscava era na verdade um parto humanizado, fosse ele vaginal ou cesárea, e que
eu não conseguiria isso com a minha médica atual (triste!).
Assim, com 28 semanas conheci a
Dra. Deborah. Foi paixão à primeira consultaJ Adorei a posição dela sobre parto
e a forma como ela tratava as pacientes. Para mim ficou claro que aquele era o
caminho a seguir, pois eu sabia que ela respeitaria nossas decisões e,
principalmente, não me submeteria a uma (desne)cesárea.
E por indicação da Déborah nós
encontramos a Natália, nossa doula querida. Com as duas nas nossas vidas ficou
mais fácil tomar as decisões para o momento mais importante das nossas vidas. E
com as conversas com a Natália e depois de ler muito eu já tinha chegado à
conclusão de que a primeira opção seria por um Parto Natural, sem anestesia e
sem qualquer outra intervenção, a não ser que a Déborah considerasse
necessária.
As semanas foram passando e a minha
DPP era dia 27/07, mas eu já estava falando pra todo mundo que seria em agosto,
porque não queria aquela pressão das últimas semanas e gente falando que o
Joaquim iria passar da data.
No dia 17/7 eu fui ao consultório
da Déborah para mais uma consulta. Chovia muito (aliás, a última chuva que
tivemos até hoje pelo menos), mas lá fui eu de ônibus e metrô (!!). Pela
primeira vez ela vez um exame de toque e disse que a cabecinha dele já estava
encaixadinha, mas que o colo ainda estava alto. Ei fiquei tranquila porque
realmente achava que ainda levaria mais uns 15 dias e ela também
concordou.
Voltei pra casa, fiz a janta,
comemos e fomos dormir. Deitei na cama por volta das 23h e senti uma contração.
Como na semana anterior nós tínhamos sido enganados com algumas contrações de
treinamento, fiquei bem tranquila e nem dei muita atenção. Dali a pouco, mais
uma contração (um pouquinho mais forte do que as da semana anterior). Decidi
levantar para não acordar o Patrik e fui ao banheiro. E para minha surpresa a
bolsa estourou ali mesmo.
Acordei o Patrik, mas estávamos
calmos. Já tínhamos lido que depois que a bolsa estoura ainda pode levar um
tempo para o trabalho de parto iniciar. Liguei para a Natália para avisar,
depois pra Déborah e decidimos que eu ia ficar em casa, tentando dormir e
guardando forças para quando a coisa realmente ficasse mais intensa no outro
dia.
O Patrik foi abastecer o carro e eu
voltei pra cama. Só que era impossível ficar na cama. Assim que eu deitei veio
outra contração e mais outra. Bom, conclui que o TP havia começado. Mas tudo
bem, era minha primeira gestação e a evolução do TP seria lenta, começando com
contrações espaçadas e eu já estava preparada para umas 12 horas de
TP.
Só que aí logo veio outra
contração. Dali a pouco outra. E eu comecei a me perguntar onde é que estavam
aquelas contrações com intervalos de 10 minutos para eu poder descansar. Comecei
a contar os intervalos: 3 em 3 minutos!
Comecei a caminhar pelo
apartamento, fazendo as respirações e as posições que eu havia treinado, porque
já estava impossível ficar deitada. Quando o Patrik voltou, eu já estava na sala
urrando de dor. Sim urrando, porque vem um espírito animal que vc sente vontade
de urrar mesmo, não de gritar.
Ligamos pra Natália e enquanto
conversávamos veio mais uma contração e ela percebeu que a coisa estava bem
adiantada. Pediu ara eu ligar para a Déborah, porque ela achava melhor irmos pro
Hospital. Ligamos pra Déborah e ela “ouviu uma contração” e a a opinião foi a
mesma.
E eu me perguntando: cadê aquelas
contrações com intervalos para eu poder descansar!!
Fomos pro Hospital e quando
chegamos, por volta da 1h da manhã, eu já fui direto pro pré parto e a
enfermeira fez o exame de toque e já confirmou: 7 centímetros. Tudo isso em 2
horas?? Puseram o cardiotoco e eu fiquei lá esperando a Natália. O Patrik,
coitado, resolvendo a papelada na recepção.
Quando a Natália chegou nós fomos
pra sala de parto. Eu andando mesmo, porque era impossível sentar ou
deitarJ Quando eu cheguei lá as contrações
estavam super fortes. Eu sabia que aquele era o momento em que as mulheres pedem
por anestesia e batem nos maridos. Só não bati no meu porque ele ainda não tinha
chegado.
A Natália chegou lá e me colocou na
banheira e aí veio o primeiro alívio. Nossa! 70% da dor que eu estava sentido
foi embora com a água quente da banheira e a massagem dela. Lá estava bem
gostoso, mas não confortável o suficiente para o parto.
Quando o Patrik e a Déborah
chegaram eu saí da banheira, mas ficamos ali no banheiro mesmo. Eles trouxeram o
banquinho para eu ficar de cócoras e aí a Déborah e a Natalia sentaram no chão e
ficaram lá esperando o Joaquim chegar.
Nesta fase final o apoio do Patrik
foi fundamental não só psicológico, mas também físico, porque eu só conseguia
fazer força nas contrações quando eu me apoiava nele. Ali nós ficamos umas duas
horas (acho, né!) e aí começaram a vir as últimas contrações. E foi
impressionante a vontade de empurrar neste momento. Eu só queria que elas não
parassem E a dor das contrações? Não sei! Não lembro muito bem, mas com certeza
nem se comparavam com aquelas que eu sentia quando cheguei ao hospital.
E com os puxos comecei a sentir a
cabecinha dele saindo. A Déborah disse “mais uma” e aí veio o tal do círculo de
fogo, minimizado graças a 3 semanas de treino com o Epi-No.
E então saiu a cabeça. Alívio imediato e indescritível. Mais umas contrações e
então ele saiu totalmente. Foi maravilhoso ouvir aquele chorinho, soluçado (que
ele faz até hoje, a propósito).
Ele nasceu às 3h25,no dia 18/07,
depois de APENAS quatro horas de trabalho de parto!
Poder sentir meu filho, inteiro, no
meu colo. O Patrik ali do meu lado. Foi tudo impressionante e maravilhoso. E ver
que eu consegui. Não fisicamente, porque quando eu ponho algo na cabeça eu vou
até o fim, mas saber ali que nós superamos os obstáculos que a sociedade e o
nosso sistema de saúde têm imposto às mulheres para que um parto normal não
ocorra.
Eu só tenho
a agradecer. À
Natália, por todo o apoio antes e durante o parto. À Déborah pela paciência e
pela humildade, deixando que nós fôssemos os protagonistas. E, claro, ao meu
marido, que sempre esteve ao meu lado, apoiando todas as minhas decisões,
principalmente a de trazer o nosso filho ao mundo por meio de um parto
humanizado.