Início Sobre Mim Contato Relatos de Partos
Sejam Bem Vindas (o), finalmente consegui colocar meu blog no ar, espero poder mantê-lo sempre bem atualizado. Criei este blog no intuito de ajudar gestantes e futuras gestantes a se informarem mais sobre o processo gestacional vivido ou desejado... Por vivermos em um mundo capitalista e consumista hoje quando engravidamos a primeira preocupação sempre é com enxoval, quarto, chá de bebe etc... E esquecemos um pouco desse processo de tamanha magnitude que é gestar, dar a vida a um outro ser. Infelizmente mais de 50% das mulheres hoje fazem cesaria por opção, pois para elas não mais existe outra forma de "dar a luz", e ter um parto natural sem intervenções usufruindo dos benefícios do próprio corpo, é totalmente absurdo e totalmente anormal.
O nosso principal trabalho é o condicionamento da mente porque o corpo já está pronto. Lembrando sempre que a cesariana é um ótimo recurso se bem indicado, então não somos contra esse tipo de interferência! Aqui no blog postarei alguns artigos que possam ajudar no condicionamento da mente e preparo do corpo! Espero que gostem e por favor postem também opiniões, sugestões etc....

Grata

0

Relato de Parto Juliana

“Se no parto há um desafio, é fazer com ele nos pertença. Que o primeiro instante da vida dos nossos filhos tenha a marca de nossa singularidade. Que eles não sejam arrancados de nós pela lógica do quanto mais rápido e indolor, melhor. Não somos um um colo que dilata, uma bolsa que rompe, um útero em contração. Somos essa vida que gerou outra vida. Cuja única possibilidade de imortalidade é dar à luz um novo ser.”


         A notícia da gravidez para nós foi uma alegria. O que eu não esperava era viver um momento tão especial... Fevereiro de 2011. Estou grávida! Com a confirmação da gravidez comecei a pensar  qual seria o sexo do bebe, nomes e parto: normal ou cesárea. Em certa tarde, conversando com minha amiga, cunhada e doula Natalia Tribeck, ela me perguntou se eu preferia parto normal ou cesárea. Sem exitar respondi que preferia parto normal porque a recuperação era muito mais rápida. Ela não se mostrou muito satisfeita com minha resposta e fomos conversando até que chegamos ao assunto sobre parto domiciliar. A principio achei meio loucura tudo aquilo. Imagina? Ter um bebe em casa, fora do ambiente hospitalar. Era modernismo demais para mim... Acho que a Nati percebeu que fiquei resistente a idéia. No entanto, ela não insistiu. Me emprestou um livro chamado Parto Ativo e disse para eu ler e depois contar a ela o que achei. Foi a melhor coisa que ela poderia ter feito. A cada capítulo lido eu ia me apaixonando pela idéia e causa do parto humanizado. Passei a ter vontade de protagonizar meu próprio parto. Fui entendo sua fisiologia, conseqüentemente o porquê da dor e todo o processo que acontece com a mãe e o bebe durante esse período. Cada vez  estava mais disposta a proporcionar ao meu filho um nascimento suave, onde o tempo DELE fosse respeitado. Entendo a batalha que o bebe trava na hora do nascimento, sentia uma vontade enorme de poder fazer parte dessa história de forma que eu como mãe, pudesse ter meus instintos respeitados, para poder estar e ser, para o meu filho um porto seguro em que ele pudesse confiar e contar comigo nesse momento. Para mim, passou a ser essencial que ELE soubesse que NÓS DOIS, tão somente nós, estaríamos na mesma sintonia. No mesmo ritmo. Mesmo pensamento. Não mais imaginava que por imediatismo humano, pudessem simplesmente arrancá-lo de mim tirando-me o direito de recebê-lo da forma mais natural possível: sem intervenções médicas. Passei a creditar que parir é um processo fisiológico e que se eu me preparasse seria capaz de dar a luz desta forma.
Ainda alimentando a idéia de ter um parto natural, li mais um livro que foi maravilhoso e decisivo: Parto com Amor. Ao ter lido os depoimentos de todas aquelas mulheres que lutaram para ter seu direito de parir respeitado me decidi: “É isso que eu quero para mim e para o meu filho”.
O Murilo, meu esposo, sempre me deu força. Demorou um pouco para entender o porquê da minha escolha. Mas, respeitou minha decisão e com o passar do tempo abraçou a causa também.
Eu e a Nati passamos a conversar mais sobre o assunto. Ela ia tirando minhas dúvidas, me dando algumas “dicas” e entre uma massagem e outra (feitas por ela) eu ia me encontrando com o meu Miguel. Esse é o nome que escolhemos para ele.
Eu ia dizendo a ele que não estava sozinho e que eu estaria ativamente com ele nessa longa viagem que faria até chegar em meus braços. A cada conversa, sentia que havia entendimento e consentimento entre nós. Nossas conversas transmitiam segurança para nós e estreitava cada vez mais nosso relacionamento.
Feito a opção pelo parto natural, a questão agora era: onde vou ter o meu filho? Nosso apartamento ainda não estava pronto e eu não me sentia a vontade para tê-lo na casa dos meus pais. O médico do pré- natal só fazia parto particular e não tínhamos condições financeiras para arcar com o valor naquele momento. E por fim, ao pesquisar os hospitais atendidos pelo convênio constatei que o índice de cesáreas era muito alto e que a probabilidade de eu consegui um parto normal era quase zero e parto humanizado então era nula. Diante dessa situação, senti um vazio enorme. Comecei a pensar que tinha que ter uma saída, outra forma. Comecei a vasculhar a internet. Foi quando “achei” as casas de parto. Em São Paulo, havia três: duas localizadas do outro lado da cidade. Muito longe para mim. Mas havia uma na zona sul. Perto de casa. Entrei no site, se chamava CASA ANGELA. Li as informações que encontrei e por alguns instantes me perguntei se existia mesmo aquele lugar. Bom, liguei e para minha surpresa alguém atendeu. Expliquei minha situação e marquei uma visita para conhecer a casa. Chegando lá fiquei encantada. Ela existia mesmo! Era linda. As pessoas acolhedoras e sorridentes. Tudo muito limpo e aconchegante. Sem nenhuma semelhança com ambiente hospitalar. Disse a mim mesma: “Filho é aqui que você vai nascer. Você quer nascer aqui?” A sensação de bem estar em mim me dava à certeza que ele me respondia que sim.
Comecei a participar do grupo de gestantes e pré natal da casa. Fui informada que lá apenas gestantes de baixo risco poderiam dar a luz naquele local. Era tudo perfeito. Apenas uma coisa me deixara inquieta: por falta de verba a Casa Ângela estava com o atendimento ao parto temporariamente suspenso. Essa notícia deixou meu coração apertado, mas ao mesmo tempo algo me dizia que tudo daria certo.
Os meses foram passando e a cada consulta e grupo eu me identificava mais com a casa e com as pessoas que lá estavam. Sentia-me tão bem que contava os dias para poder retornar. Havia afinidade entre as partes e isso era essencial para o bom desenrolar do trabalho de parto. As parteiras da casa me transmitiam muita confiança e assim como elas, as demais pessoas que trabalhavam na casa não me deixavam perder a esperança de que eu teria meu filho lá.
Fui lendo diversos relatos de partos, assistindo vídeos e li mais alguns livros também.
Quando eu estava de aproximadamente 36 semanas, em uma das consultas recebi da Camila a deliciosa notícia: “Jú, nós vamos fazer o seu parto aqui na casa. Você quer muito ter seu filho aqui e nós queremos muito fazer o seu parto”. Era tudo o que eu queria ouvir. Foi bom demais ouvi-la falar. Senti como se uma pedra tivesse sido retirada do meu caminho. Pensei: “Filho agora sim! Esta tudo certo. A hora que você estiver preparado eu também estarei. Estou com você sempre. Vamos nos encontrar em breve”.
Os dias foram passando e eu tentava controlar a ansiedade do esperado encontro.
37, 38, 39 semanas... Nada de perder o famoso tampão ou do rompimento da bolsa. Sentia apenas algumas contrações ainda sem ritmo.
Nesta fase, diante da minha tranqüilidade, era impressionante como algumas mulheres sentiam a necessidade de me dizer que a hora estava chegando e que a dor do parto era terrível... Sentia um pouco de tristeza ao vê-las pensar assim, pois  um momento tão bonito na vida daquelas mulheres havia sido manchado por uma seqüência de fatos que as faziam lembrar apenas da dor. Não conseguiam  ver entrega, amor e doação. Apenas a dor. Era o que mais forte ficara na lembrança delas. E então comecei a entender o porquê dessa necessidade de falar da dor. Havia sido isso que deixaram para que elas compartilhassem.
03 de outubro. Consulta na Casa Ângela. A Camila me recebeu, fizemos os procedimentos de rotina. Graças a Deus estava tudo bem. Eu não sentia nada de diferente das semanas anteriores, então me despedi das meninas e brinquei: “Amanhã eu venho para ter o Miguel”.
Saí da Casa Ângela, fui ao Shopping e depois voltei para minha casa.
Madrugada de 04 de outubro, 02h, mudança da lua... Fui me deitar sentindo um leve incomodo na região lombar. Essa dor já me acompanhava há alguns dias então não dei muita importância para ela.
04 horas da madrugada, acordei com vontade de ir ao banheiro. Sentei na cama, com as pernas cruzadas e quase que inconscientemente comecei a fazer movimentos para frente e para trás. Fiquei assim por alguns minutos e percebi que aqueles movimentos aliviavam minha dor, então deitei e pensei: “Preciso dormir!”.
06h da manhã acordo novamente. Dessa vez as contrações eram mais fortes e ritmadas. 03 em 10 minutos.
É hoje. Sei que ele vai nascer hoje!
Tomei um banho demorado, liguei para o Murilo, Camila e Natalia avisando-os que deveríamos ir para a casa de parto.
07h o Murilo chegou. Eu via a ansiedade natural em seus olhos. Tomei um chá e fomos em direção a Casa.
Era uma terça-feira fria. O trânsito estava horrível. O farol abria, fechava e nada acontecia. Estávamos parados no mesmo lugar. Olhei para o Mu e disse: “Não vai dar para esperar não!” Ele me olhou nos olhos e perguntou:” Posso sair desse trânsito do meu jeito?” Eu consenti. Enfim, fomos pela contramão, calçada... Não havia opção. Por sorte, um motoqueiro percebeu nosso desespero e foi pedindo passagem para nós.
08h Conseguimos chegar. A Rose me recebeu com um sorriso lindo e me deu um confortante abraço. Eu já não conseguia ficar em pé. Sentei no chão procurando uma posição para respirar melhor. Enquanto o quarto de parto estava sendo preparado, eu recebi uma maravilhosa massagem sentada no cavalinho. Parecia mágica. Depois da massagem, consegui levantar e caminhar em direção ao quarto.
Já no quarto, fizemos o cardiotoco e aqueles 20min deitada para mim foi uma eternidade. Para minha alegria, por volta das 08:30 vejo a Fran, a Camila e a Nati entrarem no quarto. Que alívio vê-las.
A Fran fez o toque e disse: “Nove centímetros! Jú nove centímetros de dilatação!” Eu mal podia acreditar. O nosso tão sonhado encontro estava muito próximo.
Fui para o chuveiro. Era tranqüilizador sentir a água escorrendo em minhas costas. O mantra indiano, a presença do meu amado, da Nati e das parteiras me davam confiança. A hora estava próxima. Fiquei alguns minutos sentada na bola em baixo do chuveiro. Respirava, sentia o calor da água e intimamente conversava com meu Miguel: “Chegou o dia meu amor. Você escolheu o dia de hoje. A mamãe esta aqui e não te deixará sozinho nessa viagem. Estamos juntos eu e você.
Saí do chuveiro e voltei para o quarto. Sentei novamente no cavalinho e me recordo de ter sido abraçada pela Nati. Desse momento em diante, não mais me lembro com clareza dos rostos presentes. Ouvia as vozes. Estava voltada para o meu eu, instinto. Senti vontade de entrar na banheira e logo que a mesma estava cheia entrei. A água novamente me acolhia. É aqui. É aqui que ele vai nascer.
O ambiente estava preparado como desejei no plano de parto: luzes apagadas, velas, incenso e o mantra indiano.
Sentia-me em outra dimensão. Procurava me preparar para as contrações. Quando fortemente elas vinham eu respirava na necessidade de mandar oxigênio para o bebe. E quando terminava eu procurava relaxar e lembrar da aliança que eu havia feito com o meu Miguel. Com os olhos fechados, ouvia a voz da Nati me dizendo: “Isso Jú! Respira... respira...” Quando eu tinha a sensação de estar perdendo o ritmo, a voz dela me trazia de volta.
Dentro da água meu corpo fazia movimentos espontâneos. Sentia a mão do Murilo junto á minha e seu rosto bem próximo ao meu. Ele dizia: “Isso amor. Você esta indo bem. Eu estou aqui...”.
Houve um momento que foi inevitável gritar. Não era um grito de dor e sim de força, de guerra. Grito de quem esta em batalha. Batalha pela vida.
Abri os olhos. Vi a Fran e a Camila na ponta da banheira. Elas me olhavam pacientemente. Nesse instante imperava o silêncio. O respeito por aquele que estava chegando. Fechei os olhos novamente e ouvi a Fran dizer para a Nati: “Olha a bolsa esta íntegra!”. Abri os olhos. Elas se olharam e sorriram.
Outra contração. “Ele esta vindo Jú” alguém falou. Nessa hora pensei: falta pouco. Eu podia sentir que meu viajante se aproximava lentamente. Sabia que ela estava perto. Mais uma contração. Força! Coloquei uma das mãos entre as pernas e pude sentir sua cabeça envolvida pelo suave movimento de seus finos cabelos dançando na água. “Meu Deus, é ele!” Meu coração acelerou. Em voz alta comecei a chamá-lo: “Vem filho, vem... estou te esperando”.
Mais uma contração. A cabeça saiu por completo. Respirei. Sabia que na próxima contração o teria por inteiro. “Ela, a contração, esta vindo Nati...” falei. “Agora Jú, força! Foi o que ouvi e lá estava ele: lindo, calmo, com a respiração forte e marcante.
As parteiras o pegaram e imediatamente o colocaram sobre meu peito. Ele ficou quietinho. Aconchegou-se e em silêncio nos olhamos pela primeira vez. Sentia como se ele me dissesse: consegui mamãe, estou cansado mas cheguei.
Foi lindo esse momento. Conversamos no olhar, nos tocamos. Sentimos um ao outro. Éramos apenas um nesse momento, um coração, um respirar, o mesmo calor, a mesma pele, a mesma emoção. Em seguida, assim que o cordão umbilical parou de pulsar, o Murilo o cortou.
 Instintivamente, o Miguel se alimentou em meu seio.
Éramos só alegria. Ela nasceu com 52 cm e 3700k. Um meninão.
Minha placenta ficou retida e tive que ser removida para o hospital para fazer curetagem. Mas essa é outra história...
Tudo valeu à pena. Nada e nem mesmo o tempo vai tirar de nós esse momento desejado e vivido com tanto amor, respeito e singularidade.
Sou eternamente grata primeiramente a Deus que sempre se faz presente em minha vida, ao meu amado Murilo, a minha cunhada, amiga e doula Natalia e finalmente a CASA ANGELA: Fran, Camila, Dau, Anke, Rose, Meire e Néia vocês são maravilhosas. Só tenho a agradecê-las por tudo que fizeram por nós. Ah, não posso esquecer-me do meu primogênito Vinícius: filho te amo demais e se eu pudesse voltar no tempo faria o mesmo por seu nascimento. Isso não o faz menos ou mais amado. Você tem seu lugar em meu coração assim como seu novo irmão. Amo vocês igual e incondicionalmente. Primas: Daia, Cassia e Paulinha obrigada pela força, presença e carinho de vocês. Pena que há apenas uma fechadura na porta e não deu para todas espiarem juntas rs. Amo vocês também.
Miguel: ei de vê-lo crescer. Um dia, poderá ler essas frases que marcaram os nove meses da nossa viagem. Mas se ainda assim preferir poderá escutar seu coração e sentirá a cada batida uma palavra dessas ecoar em seu ser.
“Tão longe do chão serei os seus pés nas asas do sonho rumo ao seu coração. Permita sentir, se entrega pra mim. Cavalga em meu corpo, minha eterna paixão”

“O trabalho de parto espontâneo em uma mulher normal é um evento marcado por uma série de processos tão complexos e tão perfeitamente afinados um ao outro, que qualquer interferência irá apenas distanciar o evento de seu caráter ótimo. A única coisa exigida dos espectadores é que mostrem respeito por esse imponente processo, cumprindo a primeira regra da medicina – nil nocere [não cause nenhum dano]”.106

Livros que li:
Ø   Parto Ativo
Ø  Parto com Amor
Ø  Quando o Corpo Consente
Ø  A Cientificação do Amor
Ø  Nascer sorrindo

Casa de Parto: Casa Ângela
Parteiras: Franciely e Camila
Doula: Natalia Tribeck






0 comentários:

Postar um comentário